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Televisão

ESTREIA-Premiado em Cannes, "As Maravilhas" transita entre o realismo e a fantasia

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SÃO PAULO (Reuters) – Ponto de vista é tudo dentro de uma narrativa. Ao optar por contar uma história a partir de um olhar juvenil, um diretor, roteirista ou escritor precisa saber fugir das limitações que tal escolha irá impor – ou usá-la a seu favor.

A cineasta e roteirista italiana Alice Rohrwacher faz da jovem Gelsomina (Maria Alexandra Lungu), a observadora sagaz em seu "As Maravilhas", vencedor do Grande Prêmio do Júri, no Festival de Cannes do ano passado.

A garota é filha mais velha de uma família ítalo-alemã, composto pelo pai Wolfgang (Sam Louwyck), a mãe Angelica (Alba Rohrwacher), e suas filhas, além da cunhada (Sabine Timoteo), uma espécie de agregada.

Morando no oeste da Itália, eles vivem da extração e comércio de mel, mas novas leis de segurança e higiene mais rígidas colocam os negócios em risco.

Gelsomina já sente vontade de abandonar aquele ambiente um tanto estranho e viver a sua vida em outro lugar. Porém, a chegada de um programa de televisão e um novo personagem mudam o ambiente. O programa é uma competição apresentada por Milly Catena (Monica Bellucci), uma figura glamourosa. Wolfgang também acolhe um garoto alemão Martin (Luis Huilca), que está ameaçado de ser mandado para o reformatório.

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"As Maravilhas" é um filme, em primeiro lugar, sobre o amadurecimento da garota, a quem cabe mais responsabilidade do que deveria. Seus pais se tornam cada vez menos centrados, e cuidar das irmãs menores acaba recaindo sobre ela. Além disso, também surgem sentimentos em relação a Martin com os quais tem dificuldade de lidar, e sem o apoio da mãe, fica a cada dia mais perdida.

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Ao mesmo tempo, o filme de Alice Rohrwacher é o retrato de um universo se esvaindo – a produção artesanal de mel da família é ameaçada. A família parece viver num mundo próprio com os dias contados – e as referências à cultura etrusca no programa de televisão não estão ali por acaso.

Gelsomina, é claro, também carrega consigo o peso de narrar o filme, embora não seja explicitamente uma narradora. Vemos tudo a partir de seus olhos. Sua incompreensão e descoberta também são as nossas. Aparentemente, a pessoa mais responsável dentro daquela casa, ela não sabe lidar com seus eventuais fracassos, e quando a vida entra num colapso, ela pode sucumbir.

A cineasta Rohrwacher, em seu filme, transita entre o realismo e o onírico. E essas idas e vindas nem sempre são bem-resolvidas. Ela sabe que está pisando num tema já surrado – aquele que acompanha o amadurecimento de uma personagem jovem, a entrada para a vida adulta –, e também não está à procura de nada novo a dizer. O filme, então, é sobre a aquisição de experiências e linguagem por parte de Gelsomina para entrar num universo que não é o seu.

Há uma espécie de busca por algo de felliniano – esse, um adjetivo já bastante desgastado, aliás, dada a quantidade de cineastas que tentam sê-lo– que, às vezes, soa como premeditado e superficial (não apenas com o nome da protagonista, tirada da personagem de Giulietta Masina em “A Estrada da Vida”, mas também com o clima do feérico concurso da televisão). Ainda assim, quando Rohrwacher acerta, ela é capaz de fazer alguma originalidade em seu filme.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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