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Estreando no cinema, Casadevall continua estudando: “Eu era muito ruim”

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mariMaria Casadevall está cansada. A atriz de 28 anos encerra a maratona de divulgação de “Depois de Tudo”, seu primeiro filme para o cinema, que estreia esta semana e levou Casadevall a dois festivais de cinema e baterias de conversas com jornalistas, intercalados com a reta final de gravação de uma novela. Ela está cansada. Mas basta começar a falar sobre sua paixão pela arte de interpretar que a faísca reacende, ela se apruma na poltrona e a conversa flui.

Apesar de estar no radar do público há pouco mais de quatro anos, Maria já deixou sua marca. Primeiro, na minissérie “Lara com Z”. Voltou à TV em seguida na novela “Amor à Vida”, que emendou com a série “Lili, a Ex”, baseada nas tiras de Caco Galhardo, desta vez como protagonista. Este ano, repetiu o par com o ator Caio Castro em “I Love Paraisópolis”, que acaba nesta sexta (6). Mas não são os olhos profundos e a simpatia que a fazem se destacar: Maria estuda sem parar para aperfeiçoar seu trabalho na TV, teatro e, agora, cinema.

“A primeira forma que eu encontrei de trazer meu mundo subjetivo pra fora foi pela escrita, o que para mim sempre foi natural”, conta. “Comecei uma faculdade de jornalismo mesmo já estudando interpretação, achei que fosse meu caminho natural”, diz ela, que iniciou a carreira no grupo teatral Satyros, da praça Roosevelt em São Paulo.

Quando comecei a estudar com 16, 17 anos, me ver era muito cruel, porque eu era muito ruim. Para ser ruim, na verdade, tinha de ser ainda muito melhor.
Maria Casadevall

Aos poucos, entretanto, ela percebeu que a escrita não bastava para o modo como queria se expressar. “Escrever é uma espécie de religião, ela me supria num lugar, mas não era tudo”, continua. “Eu queria juntar a poesia da escrita com a beleza do movimento do corpo, e encontrei tudo isso no teatro”.

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O passo para a televisão aberta veio com naturalidade –mas não foi uma transição fácil. “A grande diferença dos meios é o tempo”, explica. “A TV obedece uma lógica mais de mercado, existe um compromisso, e por isso o processo é acelerado. O teatro experimental te permite mais tempo, de certa forma existe um descompromisso com dinheiro. O que permite mais pesquisa, que continua mesmo quando a gente está em cartaz”.

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Seu processo de criação, porém, se mantém coeso, mesmo com a entrada do cinema na equação. “Eu procuro focar mais na história e no ser humano que estou criando, e menos no meio onde ela será materializada”, comenta. “Cada meio vai se impondo depois, mas me considero afortunada por sempre ter oportunidade para criar, para desenvolver um personagem, em todo trabalho que me envolvi”.

Ao contrário de muitos atores, porém, Maria não abraça um personagem e só o solta quando a obra está concluída. “Eu penso em seu histórico fora do recorte da obra, mas eu não tenho uma coisa de criar todos os momentos de sua vida”, empolga-se. “Isso acaba vindo de maneira orgânica ao longo da criação. Eu vou primeiro em busca de símbolos, seja uma música ou uma imagem, que me ajudam a contar a história dessa personagem. Não tenho esse processo de criar todo um pano de fundo, até porque em minha vida eu não consigo colocar nada em ordem cronológica! É uma sucessão de imagens, sons cores… Abstrações que aos poucos passam a contar uma história”.

E foi assim com Bebel, a protagonista de “Depois de Tudo”. O filme de João Araujo surgiu da peça emblemática (e autobiográfica) escrita por Marcelo Rubens Paiva, e encenada por sete anos pela dupla Marcelo Serrado e Otavio Müller –que repetem seus papeis na versão para o cinema. Eles são dois amigos, músicos, separados por um acidente na juventude e pela própria vida, mas unidos por sua relação com Bebel.

“Não conhecia a peça, mas lembrava do burburinho que ela causou no meio teatral, logo quando estava começando a fazer teatro”, recorda-se. “Mas me interessava muito personificar uma figura que só existia na imaginação dos atores, do Marcelo e do Otavio. Ela era um ser na cabeça dos atores e do público, um apanhado de referências. Quando li o roteiro já criei a minha Bebel. Encontrar essa mulher era o que me interessava como atriz”.

A estreia no cinema foi uma mistura de descoberta e ansiedade para Maria, que aponta sua experiência com a TV como integral para o aprendizado de fazer um filme. “Eu sou muito observadora, já que tenho conseguido domar minha ansiedade”, confessa. “A TV me amaciou para encarar a espera, e na TV essa espera entre takes é menos produtiva que a do cinema. Sempre há uma preocupação com o tempo, e a TV não permite que a equipe se envolva muito com a história”.

A confiança no diretor João Araújo foi fundamental para que ela se entregasse ao processo. “No cinema, todo mundo está jogando junto, até os intervalos são produtivos, existe mais conexão com a história, mais reverência”, continua. “Foi isso que me segurou quando vi a primeira versão do filme, bem crua, meses atrás… Deu um desespero ver tudo picotado! (risos) Mas o João me confortou, e quando assisti ao filme completo pela primeira vez, no Festival do Rio, saí da sessão com a mesma certeza que tive quando li o roteiro e conheci o João, que podia me entregar por completo”.

Assista ao trailer do filme

É no cinema onde ela busca suas referências para se aprimorar ainda mais. “Acho lindo o casamento da técnica de interpretação com sua parte visceral”, explica. “A Juliette Binoche é fantástica por ser o casamento perfeito das duas coisas. Ela tem uma técnica muito sólida, ao mesmo tempo que traz uma leveza, uma liberdade de criação”.

Ainda assim, Maria admira a humildade da atriz francesa: “Eu vi uma entrevista em que ela falava da Kristen Stewart, com quem trabalhou em ‘Acima das Nuvens’, e como ela gosta de improvisar… E foi fascinante ver a Juliette falando em como gostaria de ser como a Kristen, seguindo menos regras, pois ela se sente muito fechada e só se solta depois de muito tempo”.

Autocrítica, Maria conta que levou um tempo até conseguir o distanciamento necessário para se ver atuando. “Eu fiz um curso em que a gente fazia várias cenas por aula, depois assistia a cada uma”, lembra. “Isso me ensinou a ter um distanciamento, e hoje eu consigo manter uma crítica saudável, como se eu estivesse vendo uma outra atriz fazendo o filme”.

Este processo acompanha a atriz há mais de dez anos, e ela hoje enxerga seus primeiros passos com bom humor: “Quando comecei a estudar com 16, 17 anos, me ver era muito cruel, porque eu era muito ruim. Para ser ruim, na verdade, tinha de ser ainda muito melhor”, conclui, rindo.

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