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Televisão

Longa Mapas para as Estrelas’ é sobre Hollywood

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mapas-para-as-estrelas-3David Cronenberg fez muitos filmes sobre personagens que operam transformações nos próprios corpos e mentes e se convertem em aberrações aos olhos de seus semelhantes. Parecia interessante, mais que isso, importante, aplicar o conceito a Hollywood, como forma de refletir sobre os bastidores do cinema. E Cronenberg fez Mapas para as Estrelas, sua segunda parceria com o astro da série Crepúsculo, Robert Pattinson. Parecia mais interessante, ainda, usar um astro do cinemão para falar sobre Hollywood de dentro. Mapas provocou imensa expectativa. Todo mundo queria ver o ataque de Cronenberg a Hollywood. Diante da pressão, ele recuou. E, no Festival de Cannes do ano passado, disse que Mapas não é sobre Hollywood e é mais seu Lobo de Wall Street em… Los Angeles.

Também em Cannes, no ano passado, o russo Andrei Zvyagintsev utilizou as entrevistas de Leviatã para dizer que o filme não é sobre a Rússia do czar Vladimir Putin e que aquele retrato do governante na sala do burocrata não vincula o filme – nem sua violência ou corrupção – às denúncias contra o regime instalado no país, no pós-comunismo. A quem esses caras querem enganar?

Enfraquecem os próprios filmes. Mas, enfim, Cronenberg é um diretor/um autor prestigiado e Mapas entrou em várias listas de melhores do ano passado. Mais uma vez, como em Cosmópolis – seu primeiro filme com Robert Pattinson, e que já era o seu Lobo de Wall Street -, as pessoas fazem sexo dentro do carro. Na coletiva, o diretor esclareceu – “Para mim, fazer sexo no carro é signo de revolução comportamental. Toda uma geração de norte-americanos foi concebida no banco de trás do carro. Era uma maneira de viver a vida a toda velocidade e também de fugir a tudo o que a casa/o lar tem de restritivo e repressor.”

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Sobre o filme ser um ataque a Hollywood, “não é. “Seria muito restritivo. É preciso pensar de forma mais profunda. Situei essa história em Hollywood, mas ela poderia ocorrer em Wall Street ou em Washington, em qualquer lugar em que as pessoas estejam lutando por sucesso e dinheiro.” O ‘muso’ da atual fase de Cronenberg – como Viggo Mortensen foi o muso da anterior, com pelos menos dois grandes filmes, Marcas da Violência e Senhores do Crime -, Robert Pattinson, não deixou por menos. “Estou muito feliz e cheio de entusiasmo por ter trabalhado de novo com David. O que esse cara me pede, eu faço.” Julianne Moore não foi menos entusiasta na coletiva do filme em Cannes – “David é uma pessoa especial e estabelece um clima de confiança tão grande que você só deseja agradá-lo, fazê-lo feliz. O roteiro é essa coisa maluca. Consegue ser engraçado e sério ao mesmo tempo.”

Ao longo de mais de 100 anos, Hollywood produziu grandes filmes para falar de si. Podem-se citar Crepúsculo dos Deuses/Sunset Boulevard, de Billy Wilder; À Procura do Destino/Inside Daisy Clover, de Robert Mulligan; e O Jogador, de Robert Altman, com seu antológico plano-sequência inicial. O título de Cronenberg é revelador. Mapas não é tanto sobre um lugar, Hollywood, mas sobre um desejo – ser astro, ou estrela. Na sociedade do espetáculo, as pessoas ainda sonham com os 15 minutos de fama a que teriam/têm direito, conforme antecipou Marshall McLuhan nos anos 1960. Um pouco como Altman, Cronenberg solta a câmera entre diversos personagens representativos da fauna hollywoodiana, ou do que se supõe que ela seja. Três concentram seu olhar – Robert Pattinson, claro, como um motorista de limusine que tenta se tornar ator; Mia Wasikowska, a Alice de Tim Burton, como uma garota que teve o corpo queimado e escreve um roteiro; e Julianne Moore, como uma atriz cinquentona e fora de evidência, que sonha com o papel que poderá lhe devolver a celebridade.

Já que o assunto chegou aqui, a única real celebridade da trama é um garoto (de 13 anos) que estrela um show de TV. Cronenberg parece dar razão aos que acreditam que hoje a real criatividade do audiovisual nos EUA está na televisão, uma falácia, bem-entendido. É possível divertir-se com o tom acima da interpretação de Julianne Moore – que a atriz sustenta, a ponto de ter recebido o prêmio de interpretação de Cannes, outorgado pelo júri presidido pela cineasta Jane Campion. É o terceiro filme de Julianne em cartaz nos cinemas, e por Para Sempre Alice, de Richard Glatzer e Wash Westmoreland – o primeiro morreu no dia 10 de esclerose lateral amiotrófica, e não de mal de Alzheimer, como chegou a ser anunciado -, ela recebeu o Oscar, que perseguia há tempos. Dois filmes, dois prêmios. Infelizmente, se o terceiro lhe valesse algum troféu seria a Framboesa de pior atriz. Julianne raramente foi tão ruim quanto em O Sétimo Filho, de Sergei Bodrov.

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Cafona, brega, tem gente que usa outra definição – bagaceira – para a personagem de Julianne. Bagaceira no sentido de vulgar mesmo. Talvez esteja aí a crítica que Cronenberg quis fazer ao universo que retrata em Mapas para as Estrelas. É um mundo vulgar, mas a verdade é que o próprio filme é vulgar, com seus excessos. Em Cannes, os críticos dividiram-se e alguns chegaram a insinuar, não sem razão, que Mapas seria, ou é, um imenso trash. Incesto, incêndio, mortes, até fantasma. O filme tem de tudo, como se fosse um compêndio de clichês de diversos gêneros. Só não tem rigor. Nesse sentido, perde feio para Marcas da Violência e Senhores do Crime. E resulta melhor para os atores que para o autor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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