Novo filme de gênero do diretor Tomas Portella —após o suspense “Isolados”—, “Operações Especiais”, que estreia nesta quinta (15), lança uma pergunta que talvez ainda não estejamos preparados para responder. E se nossa polícia fosse “suíça”? Eficiente, honesta e despida de qualquer sorte de corrupção?
Difícil saber se, nesse cenário, seríamos mais íntegros. Deixaríamos de cometer as pequenas corrupções do dia a dia, da carteirinha de estudante falsificada à fila de supermercado furada, ou seguiríamos com o introjetado “jeitinho brasileiro”?
Portella, que também é roteirista do longa, joga essas questões no ar como tiros e granadas, mas não as aprofunda. Essa, provavelmente, é a principal pecha de sua história, que se faz em uma trama simples. Um grupo de elite da Polícia Civil do Rio é deslocado para o interior do estado para frear o escoamento do crime pós-ocupação do Complexo do Alemão.
Cléo Pires é Francis, uma recepcionista de hotel que decide ingressar na polícia. Sua ideia era ter a função burocrática de inspetora, mas ela acaba na linha de frente no combate ao tráfico na fictícia São Judas do Livramento.
A jovem é acompanhada pelos policiais Roni (Thiago Martins) e Décio (Fabrício Boliveira), sob a tutela do ilibado delegado Paulo Froes (Marcos Caruso), um homem que prefere pedir as contas a aceitar propina de políticos.
No início, a relação é ruim e repleta de desconfiança em relação à novata, mas a situação extrema e a lealdade de Francis à justiça revertem o jogo. Ao longo do filme, ela cresce e se envolve sexualmente com Décio —ninguém é de ferro—, mostrando poucos sinais de fraqueza. Nasceu para o ofício.
Se a trama aprofunda pouco a psique dos personagens —todos são extremamente íntegros, mas não há pistas sobre o que precisaram passar para chegar a essa postura—, o filme ganha em adrenalina nas cenas de ação. São várias perseguições frenéticas, tiroteios, invasões a domicílios em primeira pessoa. Um prato cheio para quem não chafurdou o bastante com os momentos mais nervosos de “Tropa de Elite”.
Por sinal, comparado às produções de José Padilha, “Operações Especiais” ressente-se de grandes atuações. É mais reto e ingênuo, como uma fábula moderna. Mas é inegável o caráter —por que não?— honesto da história ao não glamourizar as forças armadas. Pelo menos nas entrelinhas.
A fotografia acerta o alvo ao enquadrar a realidade do efetivo de forma sóbria, privilegiando tons que pouco vão além do branco e do cinza. É entediante ser policial. A não ser quando o bicho pega.
Já o universo dos bandidos, condensado na figura do miliciano e ex-policial Toscano (Antonio Tabet, da série “Porta dos Fundos”, que surpreende no papel de vilão), é multicolorido e atraente. Relevando eventuais percepções moralistas, seria bem mais interessante optar pelo caminho do crime.
No geral, o longa funciona mais como entretenimento do que como gatilho de debate, tendo como grande chamariz as cenas de ação. O raro casos do protagonismo feminino em um filme do gênero, que poderia servir como pontapé inicial, acaba em segundo plano –talvez pela falta de carisma de Cléo.