publicidade

Cinema brasileiro trouxe mulheres fortes e com histórias próprias em 2015

Publicidade

O discurso de Patrícia Arquette no Oscar 2015, em fevereiro, era o prenúncio de como seria o ano das mulheres no cinema. Ao pedir equiparação salarial sob o maior holofote das telonas, não demorou para ter outras atrizes, ainda mais famosas, ao seu lado. Além de salários maiores, Jennifer Lawrence, Lena Dunham, Meryl Streep, Viola Davis também exigiram papeis mais interessantes e mais espaço na direção.

O Brasil acompanhou esse movimento com força e conseguiu levá-lo para o mainstream. A maior responsável pelo feito foi Anna Muylaert ao colocar no centro da telona uma atriz popular, Regina Casé, na pele de uma empregada doméstica, em “Que Horas Ela Volta?”. Além de levar mais de 500 mil pessoas aos cinemas, ficando entre as dez maiores bilheterias brasileiras do ano, Muylaert conseguiu outro feito raro, fazer com que sua protagonista falasse sobre algo que não seja um homem, mas de relações de poder e resquício de escravidão.

A produção passa com folga no teste Bechdel, criado para medir se um filme é livre do preconceito de gênero. O teste questiona se uma obra de ficção possui pelo menos duas mulheres que conversam entre si sobre algo que não seja um homem. Apesar de haver outras mulheres no comando das dez maiores bilheterias do país neste ano, os filmes mais rentáveis ainda escorregam no teste e mostram que ainda temos um caminho longo a percorrer no quesito igualdade de gênero. Apesar de o 1º lugar, “Loucas para Casar”, tentar desconstruir a sugestão do título, o filme ainda derrapa nos estereótipos da mulher fácil, da certinha, a neurótica e a crítica a eles aparecem tardiamente.

A mulher no topo da bilheteria

Crítica semelhante enfrenta Cris D’Amato, que estreou este ano a continuação de “S.O.S Mulheres ao Mar”. Sucesso de público, a história traz uma mulher que faz de tudo, até entrar escondida em um cruzeiro, para reconquistar o homem da sua vida. Cris, no entanto, discorda que isso seja um problema. “Fui chamada de machista porque fiz uma comédia romântica em que a mulher corre atrás do seu amor. A crítica questiona esse tipo de coisa, mas o público, não. Acredito que comédia com romance é uma fórmula que a gente vive na realidade. Eu trabalho, tenho namorado, tento me virar. São enfoques na vida da gente assim como fez a Anna [Muylaert] no filme dela”, disse.

Publicidade

Eu gostaria que fossem muitas, variadas personagens. E não só porque os homens têm também, mas porque é interessante e temos muito a dizer Andréa Beltrão, sobre o que deseja do futuro das mulheres no cinema

Publicidade

Apesar de a mulher que quer casar ou lida com o casamento estar muito presente ainda nos filmes de maior bilheteria, a cineasta Marina Person, que lançou seu primeiro longa de ficção este ano, acha que isso só vai mudar quando mais mulheres assumirem as posições de destaques do filme, como direção e roteiro. “Quando a gente fala de machismo no cinema e na sociedade, a gente tem que lembrar que isso não é claramente identificável. É difícil perceber onde a mulher não foi para frente. Isso está na escolha de um filme com tema feminino, nas comissões de seleção, entre jurados de um festival. Além disso, o machismo está também nas mulheres, porque somos fruto de uma sociedade machista”.

Conscientização é questão de tempo

Responsável pela terceira posição dos filmes brasileiros do ano, Julia Rezende, de “Meu Passado Me Condena 2”, outro filme que tem o casamento como foco, acredita que a chegada de novas mulheres no pódio só tende a enriquecer a cinematografia do país. “Eu sou otimista em relação a isso e acho que estamos melhorando e ganhando novos espaços. Claro que a gente está ainda longe do ideal, mas a sociedade inteira está longe do ideal”.

Person ainda acredita que é só uma questão de tempo para o assunto invadir ainda mais o mainstream. “No começo deste ano, eu não estava tão atenta para o tema, mas as fichas foram caindo. Comecei a olhar os números e acho mesmo que é só uma questão de tempo para que toda a sociedade comece a falar disso”.

Um vídeo para promover o filme “O Olmo e a Gaivota”, de Petra Costa, trouxe atores como Barbara Paz, Bruna Linzmeyer, Julia Lemmertz, Alexandre Borges e Fernando Alves Pinto para falar abertamente sobre aborto e também sobre representatividade no cinema. “Estima-se que as mulheres falem em apenas 30% dos filmes. E quando falam, falam sobre homem e com homens”, dizem eles. Por trazer atores globais, o vídeo foi visto mais de 1,5 milhão de vezes e criticado por religiosos ou grupos mais conservadores.

A atriz Camila Morgado é outra prova de que as coisas estão mudando também para quem leva mais gente ao cinema. Presente em comédias de sucesso, como “Bem Casados” e “Até Que a Sorte nos Separe”, ela contou ao UOL que passou por uma experiência transformadora ao fazer parte do filme “Animal Cordial”, primeiro longa de Gabriela Amaral de Almeida, com previsão de estreia para julho de 2016. “Foi importante discutir esses papeis de gênero no set e com uma diretora tão forte”, disse a atriz.

No filme, dois assaltantes invadem um restaurante em que há clientes, mas em pouco tempo as relações de opressor e oprimido se invertem. “Todas as questões que estão subjacentes ao assalto têm a ver com disputa de poder, homem-mulher, patrão-empregado, oprimido-opressor, evidentemente a figura feminina é uma das questões discutidas no filme”, disse Gabriela, ao UOL. Ela vê o panorama do cinema de forma positiva, mas que naturalmente não é fácil incluir diversidade entre os blockbusters. “Toda vez que a gente quer mudar qualquer estrutura de poder, quem está no poder vai lutar contra. Não é um diálogo consensual de partes. Não há consenso da parte opressora que as mulheres necessitem de mais espaço, mas quero acreditar que os passos que demos este ano foram grandes”.

Reprodução

Retrospectiva 2015

Gabriela Amaral Almeida e Murilo Benício em set de “Animal Cordial”

Futuro delas nas telas

Com mais de 20 filmes no currículo e atualmente em cartaz com “Chatô” e “Em Três Atos”, Andréa Beltrão diz que se incomoda com o fato de a mulher ser colocada sempre em segundo plano. “Há várias conquistas a serem feitas. Acho importante criarmos mulheres fortes com histórias, que sejam tão atraentes e interessantes como os homens. Eu só não gosto muito quando isso vira uma cisão, um partido. Eu gosto quando homens e mulheres querem falar sobre as mulheres. Acho que interessante também a visão que eles têm sobre nós”.

Discutindo as inquietações da chegada da velhice no filme “Em Três Atos”, de Lucia Murat, Beltrão diz que quer continuar atuando até ser “bem velhinha” e o que ela deseja para o futuro é não ver apenas um perfil na tela. “Eu gostaria que fossem muitas, variadas personagens. E não só porque os homens têm também, mas porque é interessante e temos muito a dizer. Se não dissemos até agora, foi por questões históricas. Queremos falar, mas quero que eles falem também”.

E aí, o que achou?

Não precisa se cadastrar! Apenas classifique.
0 / 5

Your page rank:

Botão Voltar ao topo
rfwbs-sliderfwbs-sliderfwbs-sliderfwbs-sliderfwbs-sliderfwbs-sliderfwbs-sliderfwbs-sliderfwbs-sliderfwbs-sliderfwbs-sliderfwbs-sliderfwbs-slide