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“A Estrada 47” traça os caminhos reais dos brasileiros na 2ª Guerra Mundial

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Quando o ator alemão Richard Sammel recebeu o convite para viver o oficial alemão Jürgen Mayer em A Estrada 47, longa de Vicente Ferraz, relutou para embarcar em mais uma história sobre a Segunda Guerra Mundial. “Estava cansado de fazer sempre o vilão nazista. Esta história já foi contada tantas vezes”, declarou. “E para me convencer de fazer uma história desta guerra hoje, tem de ser muito criativo e vir com uma ideia diferente, sem os velhos clichês dos últimos 50 anos”, completa ele, que tem no currículo a participação em longas como Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino, e A Vida É Bela, de Roberto Benini, em que vive claro, agentes nazistas.

Pois uma proposta diferente foi exatamente o que o diretor brasileiro fez a Sammel. Sua ideia era contar não só uma história pouco conhecida tanto no exterior quanto no Brasil, mas também dar ao ator alemão a chance de fugir do estereótipo do típico vilão nazista. “Quando li o roteiro, entendi tudo. Eu seria um desertor, que não só sai do óbvio ao romper com o exército alemão como também é capturado por improváveis oficiais brasileiros, que ainda fazem outro prisioneiro, um Partigiano italiano. Isso sim é algo novo! E que de fato aconteceu”, conta Sammel.

A Estrada 47, a propósito, conta a saga de quatro oficiais brasileiros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) , perdidos na terra de ninguém na Itália, em território ocupado pelas forças do Eixo. Após sofrerem um ataque de pânico, próximo à Linha Gótica (linha de defesa nazi-fascista que cortava os Montes Apeninos, onde foi travada a Batalha de Monte Castelo, em que houve grande baixa de soldados brasileiros) eles se vêm no meio do nada, fastigados pelo frio inclemente e divididos entre o medo de serem acusados de desertores e de enfrentar a Corte Marcial e o de encarar o inimigo nazista. O longa é estrelado por Daniel de Oliveira (Guima),  Francisco Gaspar (Piauí), Júlio Andrade (Tenente), Thogun Teixeira (Laurindo), o italiano Sergio Rubini (Roberto), o português Ivo Canelas (Rui) e Richard Sammel (Mayer). “Eu não fazia ideia de que os brasileiros tinham combatido ao lado dos Aliados. E isso porque eu estudei muito o assunto. Ninguém sabe disso na Alemanha e nem na Itália. É esta história, que é importante sobretudo para o Brasil que me emocionou. Como ninguém a contou antes?”, questiona Sammel.

Essa mesma pergunta o que fez Vicente ter a inspiração para criar A Estrada 47. “Há 70 anos, mais de 25 mil brasileiros enfrentaram um frio de -30C nos Apeninos italianos, combatendo nazista. E é algo tão absurdo que me pergunto por que não filmaram antes? Não foi a vontade de fazer um filme de gênero, mas contar a história dos brasileiros reais. Este encontro de culturas, dos brasileiros, tropicais, em Guerra europeia é o que me moveu neste filme”, responde o próprio diretor.

Treinamento militar e uniformes reais em cena

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Vicente, que passou anos trabalhando na pesquisa e no roteiro de A Estrada 47, não se baseou em uma história específica, mas tudo que está na trama do longa tem os pés fincados na realidade. “Li muito sobre a Segunda Guerra mundial e sempre achei muito interessante estes episódios. Havia vários grupos de engenheiros de combates brasileiros que abriam passagens por campos minados, como os personagens do filme. E oficiais da FEB capturaram soldados alemães. Isso realmente aconteceu diversas vezes. Mas pouco se fala hoje tanto sobre os feitos dos Pracinhas quanto sobre sua importância e seu legado”, diz o diretor.

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Apesar de ficcional, o cuidado em estar sempre o mais próximo do cenário real fez com que Vicente e os produtores do filme optassem por rodar o longa em território italiano. “Isso tornou a produção muito mais complexa, mas fez toda diferença. Para contar uma história com tanta relação com a História era preciso este cuidado.

Sem contar que os uniformes usados pelos atores são originais também, além dos tanques (modelos M4 Sherman), que vieram de museu de Ferrara, e de tantos objetos que emprestamos e alugamos de colecionadores de relíquias da Segunda Guerra”, explica o diretor, que também contratou assessores militares para acompanhar as filmagens e enviou os atores para uma temporada de treinamento militar na 12.ª Companhia de Engenharia de Combate, em Pindamonhangaba.

“Esta preparação militar foi crucial para nosso trabalho no filme, pois pudemos sentir um pouco do que os Pracinhas sentiram, além de aprender a pensar como um soldado. O preparo continuou na Itália, pois antes de começar a filmar, subimos por vários dias as montanhas, aprendemos sobre como foi viver naquelas condições”, relembra Daniel de Oliveira.

Para o Francisco Gaspar, usar o uniforme real foi um dos grandes desafios. “Era feito de lã, muito pesado, mas nos mantinha aquecidos. Já as botas molhavam na neve. E aprendemos a fazer como os Pracinhas, que colocavam uma meia, depois palha, depois jornal e outra meia, para manter os pés aquecidos. Este nosso desafio real está no filme. E nos momentos mais difíceis, em que sofríamos mesmo com o frio e a espera, eu pensava nos soldados brasileiros, que foram para a guerra despreparados tanto física, tática e psicologicamente”, comenta Francisco Gaspar.

Vicente também pesquisou muitas fotos e vídeos da época. E neles descobriu cenas curiosas. “Ele me mostrou uma imagem ótima. Era uma cela com prisioneiros alemães e um brasileiro fazendo a guarda. Mas este estava fumando um cigarro, a cela estava aberta. Havia um clima de quase cavalheirismo. Do tipo “eu deixo a porta aberta pra vocês, vou ali buscar um almoço pra nós. Vamos facilitar para todos. E os Pracinhas realmente dividiam a comida com o inimigo”, relembra o ator português Ivo Canelas, que em A Estrada 47 vive o jornalista brasileiro Rui, que se junta à trupe em busca de historias exclusivas do conflito.

“Quando houve a pré-estreia do filme na Itália, há três semanas, muitos questionaram que não foi o Brasil quem exatamente libertou a Itália. E aí um jornalista ponderou que se os brasileiros não libertaram sozinhos o país, por outro lado trouxeram com eles algo muito importante, como a solidariedade, a amizade, o respeito, que já não havia mais no cenário de guerra europeu, principalmente no momento em que os Pracinhas foram enviados, já no final do conflito”, analisa Vicente.

“O que também está no centro desta trama é esta forma única de combater dos Pracinhas, que foram a guerra despreparados e lutaram valorosamente contra um inimigo superior, um clima extremo num país distante, sem esmorecer nem perder de vista o que é ser brasileiro e a solidariedade que isto traz. É um filme sobre o Brasil, sobre ser brasileiro e sobre ser brasileiro fora do Brasil”, diz Ivo Canelas.

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