The Prodigy – The Day Is My Enemy
O público britânico é bastante fiel aos seus ídolos. Prova disso está no fato desse álbum, o sexto da banda de música eletrônica, ter estreado no topo da parada do Reino Unido, um caso que está longe de ser único – Noel Gallagher que também chegou no primeiro lugar recentemente que o diga.
A razão para esse sucesso contínuo não está só no fato das pessoas sentirem saudade dos anos 90, quando o Prodigy reinou com sua mistura explosiva de eletrônica e som pesado, mas porque o grupo mantém sua competência.
O fato deles estarem espaçando cada vez mais os lançamentos, também ajuda a criar um clima de expectativa a cada trabalho – dessa vez foram seis anos de espera.
“The Day Is My Enemy” não traz nenhuma mudança radical no som da banda. Os breakbeats seguem lá, assim como as bases pesadas criadas pelo chefão Liam Howlett e as intervenções vocais de Keith Flint e Maxim.
Isso não significa que eles tenham apenas requentado as velhas fórmulas. O disco soa suficientemente contemporâneo e tem vários momentos de brilho para justificar a sua existência – ainda que ouvi-lo na íntegra seja um tanto cansativo para ouvidos menos acostumados.
De qualquer forma, basta ouvir faixas como o single “Nasty” ou a matadora “Ibiza” – uma cacetada feita em parceria com a dupla sensação Sleaford Mods – que desanca todos os DJs superstars que parecem entender cada vez menos de seu ofício, para ver que o Prodigy ainda faz sentido, mesmo com mais de duas décadas de estrada.
Ouça “Nasty” com o The Prodigy presente no álbum “The Day Is My Enemy”
Brian Wilson – No Pier Pressure
Brian Wilson é uma das grandes unanimidades da história do rock. As canções que compôs e produziu para os Beach Boys na década de 60, seguem como um dos melhores exemplos de como é possível fazer arte dentro da estrutura relativamente simples da música pop.
O fato dele ter lutado por décadas contra graves problemas mentais, e estar não só vivo, como também produzindo e se apresentando para plateias numerosas ao redor do planeta, tornam impossível que não se nutra simpatia por ele.
A história incrível de Wilson em breve chegará às telas – “Love And Mercy” estreia ainda este ano no exterior e tem Paul Dano e John Cusack interpretando o músico. Mas, antes disso, nós temos No Pier Pressure, seu quinto álbum de material inédito lançado desde 1988 – nesse tempo ele também lançou discos com covers e regravações além de ter finalmente terminado o projeto “Smile” que havia abandonado em 1967. Ele ainda voltou a se reunir com sua antiga banda para uma turnê e um disco de inéditas em 2012.
Na verdade, Wilson começou a trabalhar nessas canções, pensando que elas iriam formar um novo disco dos Beach Boys. Infelizmente, o dono da marca, o vocalista Mike Love, preferiu seguir fazendo shows com sua versão da banda para manter o mercado interessado em uma futura reunião do grupo com todos os integrantes originais ainda vivos. Dessa forma, só restou a Brian fazer um trabalho solo.
Óbvio que é difícil comparar esse disco com as obras-primas gravadas por ele há quase cinquenta anos, mas, ainda assim, o disco é bem digno. Sim, os fãs mais radicais poderão reclamar de alguns momentos onde ele acaba soterrado pela produção equivocada ou por seus convidados.
A lista de participações aliás é longa e variada. Estão aqui Kacey Musgraves, Sebu Simonian do Capital Cities, Nate Ruess do fun., a dupla She And Him (presentes na bossa nova “On the Island”) e o seu colega de Beach Boys Al Jardine.
Também pode-se reclamar que algumas canções soam por demais familiares, quase que pastiches do que ele já fez antes. Mas, no final, o álbum ainda tem vários momentos de inacreditável beleza (“The Last Song” em particular é um clássico instantâneo). Os arranjos, como era de se esperar, são no geral brilhantes, assim como as incomparáveis harmonias vocais – marca registrada de seu trabalho.
Veja Brian Wilson mostrando duas canções do álbum no talk show de Jimmy Kimmel
Sufjan Stevens – Carrie & Lowell
Na década passada, Stevens cativou a crítica e os fãs de música alternativa, com seus álbuns recheados de lindas canções de inspiração folk. Ele também se mostrava um compositor ambicioso quando dizia que iria lançar um disco com músicas inspiradas por cada um dos 52 estados americanos.
Obviamente este era um projeto quase impossível de ser completado e ele acabou desistindo da empreitada depois de lançar os álbuns sobre Michigan e Illinois – os dois muito bons, diga-se.
Nos anos seguintes Sufjan Stevens só fez confundir público e jornalistas, lançando álbuns de natal, ou de música eletrônica e experimental. “Carrie & Lowell” é assim, o seu primeiro trabalho “tradicional” desde 2005 e é um senhor disco.
Aqui temos um álbum conceitual. A Carrie do título é a sua mãe, que ele raramente viu, tinha sérios problemas de dependência química e com quem só foi se reconciliar pouco antes de sua morte por câncer. Lowell foi o segundo marido de Carrie e o grande responsável pela formação musical de Sufjan. Ainda que o casamento tenha acabado, o músico continuou a se encontrar com seu padrasto e até hoje eles mantém contato.
Sufjan conta essas histórias de família fazendo uso de poucos instrumentos – banjo, violão, um pouco de piano e quase anda além disso. Apesar da paleta limitada o resultado final é arrebatador.
As canções são uniformemente belas e os arranjos esparsos em momento algum tornam a audição do álbum tediosa. Isso porque ele tem um enorme talento para compor e uma voz excelente, que transmite fortes emoções – especialmente quando ele canta em uníssono ou em harmonia com si próprio.
Sendo assim, não surpreende que “Carrie & Lowell” tenha entrado no top 10 da Inglaterra e Estados Unidos e tenha recebido elogios unânimes da crítica, que já o considera um dos melhores discos de 2015, para não dizer desta década.
Ouça “Should Have Known Better” com Sufjan Stevens, presente em “Carrie & Lowell”